Queridos irmãos e irmãs na fé, quero destacar as palavras de Jesus no versículo 15 do Evangelho de Marcos: “Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz com que ela fique impura”.
Vemos que não é de hoje que o ser humano tenta das mais variadas formas manter certo rótulo de “certinho” diante de Deus e do próximo. O texto do Evangelho de domingo passado nos mostra isso. Um exemplo são os rituais religiosos, que eram baseados em simples e frágeis tradições humanas que viam impureza no que rodeava o homem e não nele mesmo.
Pensa-se que quanto mais se faz, mais se agrada a Deus ou mais se fica puro diante do Senhor. Um exemplo prático e bíblico disto é o de Jesus lavando os pés de Pedro, que só via superficialmente o que Jesus queria lhe mostrar, chegando a pedir para que Jesus não o fizesse, pois, ele era indigno. Jesus pelo contrário diz por que do lavar, e do servir ao contrário do ser servido, Pedro queria então que Jesus o lavasse inteiro.
Só vemos o que está na vista, o que posso ver da lei e do mal considero como o tal e pronto, assim como olho uma piscina e não sei quanto funda ela é e perigosa, então posso imaginá-la rasa. Se não posso ver muito pecado em mim, ou se me considero um cumpridor perfeito da vontade de Deus, então não me vejo pecador e imerecedor da graça divina.
Podemos ver que no caso das tradições descritas no evangelho, foram criadas talvez na tentativa de clarear o caminho para a santidade de vida conforme o que a lei ensinava uma santidade que não é possível sem Cristo vivendo em nós.
Vemos que fora criada uma espécie de lei sobre como interpretar e seguir a lei, mostrando como os fiéis podiam “cumpri-la”, uma visão muito rasa da lei e do pecado que Deus nos mostra nos mandamentos de forma bem direta e clara.
Um exemplo: à tradição de “lavar as mãos” que determinava “quando” e “como” obter a pureza espiritual. Cada passo era detalhado, especificando até a quantidade mínima de água cerimonialmente pura a ser utilizada. Observem o homem determinando meios de barganhar com Deus.
Porém, este procedimento não era mandamento divino. Foi uma lei oral que evoluiu da lei escrita (o Antigo Testamento) que exigia que os sacerdotes lavassem suas mãos e pés numa bacia de bronze antes de entrarem na tenda da congregação (Êx 30.19).
Estes rituais refletiam a convicção de que a fonte do mal era externa; as impurezas vêm do contato com pessoas, comidas ou coisas impuras. Não é algo pertencente a nossa natureza pecadora. Mas, Jesus define a real fonte do mal: o coração do homem.
Jesus insiste em dizer que a fonte da autoridade religiosa é a Palavra de Deus, não a tradição humana. Ele nos exorta a ouvirmos atentamente, pois, estes falsos conceitos ou tradições dos mestres espirituais agitavam a cabeça e o coração do povo, fazendo com que acreditassem que pudessem contribuir com algo para receberem as bênçãos de Deus. Nada diferente dos pregadores de hoje.
Atitudes legalistas que vemos em muitas ditas “religiões” do tipo faço isso e recebo aquilo, que enumeram variadas formas de se agradar a Deus e merecer a sua bênção temporal e eterna. Atitudes e tradições que muitas vezes notamos dentro de nossa própria igreja. Infelizmente desta forma podemos notar de onde realmente vem o mal que nos deixa impuros e entristece a Deus e a nossos semelhantes.
Tentamos burlar os mandamentos de Deus que apontam para nossa condição de pecadores e dependentes de Cristo, para sermos talvez apenas em nossas consciências cooperadores em nossa salvação e aparentemente santos diante de nossos irmãos na fé. Mesmo que às vezes julgamos, apontamos, e condenamos aqueles que diante de nós não são tão puros.
Aqui nós notamos que o mal não é aquilo que achamos que é mau, mas, sim o que Deus acha que mau. Nenhuma obra humana é tão boa e perfeita para merecer o perdão.
E aqui vem a pergunta que nos inquieta, onde isso nos deixa? No inferno irmãos e irmãs. Quando caímos da graça, estamos literalmente no inferno. Prova disto temos nas palavras ditas em Romanos 3. 23: “Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus.” Isso traz juízo e condenação sobre nós.
Jesus não pode mentir para nenhum de nós e muito menos para o Pai, quando está falando do nosso coração que está cheio de pecado e maldade. A lei as nossas atitudes e o mundo nos mostram isso todos os dias. O problema não está nos outros e sim em mim.
Por isso Jesus não mente para nós, aqui Ele diz que Ele como Deus vai ao inferno nos buscar, por amor Ele morreu por nós porque sabe como está nosso coração depois da queda de Adão e Eva corrompido e cheio de maldade.
Quando olhamos para o próximo só vemos nele o que pode nos trazer proveito, não amamos de verdade, se amamos nossa esposa esperamos amor e compreensão de volta, não ajudamos nossos irmãos por amor sempre esperamos o dia em que podemos receber o favor de volta, não elogiamos por amor muitas são às vezes do elogio por inveja, sempre temos a visão do próximo como algo que posso tirar proveito.
No alto da cruz abandonado por todos inclusive pelo Pai, no Batismo que lava nossos pecados e nos dá nova natureza, na ceia onde fortalecemos nossa fé neste Cristo que nos ama incondicionalmente temos sinais dados por Ele que nos mostram o que Ele fez por cada um de nós.
No Batismo morremos para nosso pecado e ressuscitamos com Ele para a nova vida, participamos no seu corpo e sangue da vida gloriosa aqui e agora, temos um gostinho de como será maravilhoso estar com todos os nossos que já foram nesta confiança de que apesar de nosso coração estar cheio de pecado, Cristo ama a cada um de nós e quer nos salvar.
Por isso de toda sua vida e obra aqui na terra Ele não fez tudo isso em vão Ele sofreu as dores do inferno em nosso lugar, só é preciso crer e se apegar totalmente nesta certeza, e isso não parte de nós, essa confiança e certeza a fé nos dá, fé que o Espirito Santo nos dá e fortalece através dos meios da graça.
Cristo traz o perdão para dentro de nossa realidade seja qual for à situação que estejamos passando, não importa o quanto estou mergulhado em incertezas, dúvidas, medo, sofrimento, Cristo sabe que todas as pessoas são iguais em sua natureza, mas, mesmo assim ele coloca pessoas que aliviam esta angustia que sofremos, coloca uma família que nos ama, apesar dos espinhos que às vezes colocamos diante do caminho deles, tudo isso por amor.
Nós vivemos as dores do inferno diariamente, o normal é o sofrimento, o anormal é Deus desviar este sofrimento de nossas vidas, por causa das dores de Cristo somos preservados de irmos mais fundo neste sofrimento e sentirmos plenamente o que é sofrer.
Vejam quão grande fica o amor do Pai em Cristo se olharmos para nossa situação por este ângulo, um ângulo que não aceitamos e muito menos queremos ver.
Sem Cristo somos totalmente impuros pra Deus, mas, em Cristo meu coração transbordará Cristo, porque não sou eu quem vive ele vive em mim, da mesma forma posso ver Cristo em minha esposa, em meus filhos, nos meus irmãos da fé, só assim posso amar porque ele me torna um ser amável e amante, e mostra minha real situação de pecador miserável, mas, muito amado pelo Pai por causa de Cristo.
Apeguemo-nos a este Cristo que habita e vive em nós preenchendo o nosso ser através da Palavra e sacramentos, tornando nosso coração duro em um coração que movido pelo Espírito Santo e pelo amor de Deus Pai, ama verdadeiramente todos os que nos rodeiam. Amém.